Futebol, soccer. Turistas, tourists. Hospitalidade,
hospitality. Amor, love. Qualquer iniciante na língua inglesa conhece
essas palavras. Mas, às vésperas da Copa das Confederações (e de olho na
Copa do Mundo), muita gente tem corrido para ganhar mais intimidade com
outras línguas - no caso, inglês e espanhol. Que o digam muitos gays, lésbicas, transexuais e
travestis de Salvador, que estão se qualificando para disputar as vagas
de trabalho no período dos jogos. Segunda-feira, dia 10, o Centro de
Educação e Direitos Humanos (Cedh), ligado à Secretaria da Justiça,
Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH), inicia os cursos de línguas para o
público LGBT. As aulas são fruto de uma parceria entre a SJCDH, a
Secretaria Estadual para Assuntos da Copa (Secopa) e Universidade do
Estado da Bahia (Uneb). Inicialmente, será uma turma de cada idioma, com 30
vagas cada, mas o Cedh não descarta a possibilidade de abrir novos
grupos. O programa prevê 80 horas de aula, sendo 60 com foco na língua e
20 sobre assuntos relacionados aos torneios e ao turismo na Bahia.
Viviane espera dominar bem outra língua para conquistar mais clientes (Foto: Almiro Lopes) Alternativa
Segundo a presidente da Associação de Travestis e Transexuais (Atras), Millena Passos, muitos travestis e transexuais trabalham apenas fazendo programa. Então estes cursos podem ajudar na disputa por outros empregos. “Nem todas querem a prostituição para sempre. Esses cursos podem dar uma alternativa”, diz Millena, integrante do Fórum Baiano LGBT.Ela, entretanto, não esconde que o domínio do inglês ou do espanhol pode ajudar no negócio mais carnal. “As meninas se interessaram porque algumas querem ganhar dinheiro na Copa. Tem que aprender a falar direito, para ganhar o cliente”, provoca.
Há 10 anos sem conseguir um emprego formal, a
travesti Viviane Oliveira, 34, já está matriculada para as aulas. “Minha
família tem dificuldades para me ajudar. Não faço mais programa na rua,
porque é muito perigoso. Isso tudo me atraiu para fazer o curso”,
contou Viviane. Ela, que atualmente trabalha apenas com clientes que
fazem contato por telefone, pretende encontrar um local de trabalho com
boa movimentação de turistas durante as copas. “Se tiver alguma
oportunidade, estou aqui, disposta”, avisa.De acordo com a coordenadora do núcleo LGBT da
SJCDH, Paulete Furacão, o curso é exclusivo porque atende um público
fragilizado. “O preconceito ainda está enraizado. Estamos tentando
quebrar barreiras e trazer profissionalismo”, diz.Paulete afirma que o curso está sendo muito
procurado por travestis e transexuais porque são os mais vulneráveis.
“Só pelos trejeitos, já são alvo de preconceito. Existe um contexto
histórico em que é comum que elas sejam profissionais do sexo, mas têm
que buscar uma segunda opção”.Na inscrição do curso, porém, não há impedimento
quanto a profissão. Qualquer gay, lésbica, bissexual, travesti ou
transexual pode se inscrever, desde que declare sua sexualidade.“Esse curso é para que os participantes se sintam
livres de preconceito. Muitas vezes, eles deixam de fazer um curso
porque são alvo de violência psicológica. Tem que existir um cuidado no
tratamento”.A bancária Bárbara Alves, 37, que é lésbica, diz
conhecer de perto esse tipo de dificuldade. Foi por esse motivo que se
inscreveu no curso e afirma estar esperando ansiosamente pelo início das
aulas. “Sei que não vou sair como a mestra do inglês, mas acho que vai
me deixar capaz de participar de diálogos”, torce.Apesar da concorrência alta, quem ainda quiser se
inscrever deve procurar o Cedh, através do telefone 3117-6912 ou na sede
do órgão, que fica na Rua Bráulio Xavier, nº 57, Corredor da Vitória.
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