"Estamos completamente repletos de nós mesmos, de modo que já não há
espaço para Deus. Também não resta espaço para os outros, para as
crianças, os pobres, os estrangeiros", disse o Papa na missa celebrada
na Basílica de São Pedro. "Não é precisamente a Deus que rejeitamos?",
questionou Bento 16. O Evangelho de Natal, onde José e Maria a ponto de dar à luz não
encontram pousada em qualquer hospedaria de Belém, "ainda me comove e
inevitavelmente surge a questão sobre o que ocorreria se José e Maria
batessem hoje na nossa porta? Haveria lugar para eles?" "Daríamos de
fato abrigo a Deus?", perguntou o papa, 85. No início de uma cerimônia de mais de duas horas, acompanhada por coral
em latim, música de órgão e som de trombetas, Bento 16 percorreu a
imensa Basílica de São Pedro sobre uma plataforma móvel, mostrando
cansaço. "Correntes de pensamento muito difundidas afirmam que (...) a religião,
em particular o monoteísmo, seria a causa da violência e das guerras no
mundo; que seria preciso libertar a humanidade da religião para se
estabelecer a paz; que o monoteísmo, a fé em um único Deus seria
prepotência, motivo de intolerância, já que por sua natureza tentaria se
impor a todos com a pretensão da única verdade." "É certo que o monoteísmo serviu durante a história como pretexto para a
intolerância e a violência. É verdade que uma religião pode se desviar e
chegar a se opor à natureza mais profunda quando o homem pensa que deve
tomar em suas mãos a causa de Deus, fazendo de Deus sua propriedade
privada. Devemos estar atentos contra a distorção do sagrado.". "Mas mesmo que seja incontestável um certo uso indevido da religião na
história, não é verdade que o 'não' a Deus restabeleceria a paz. Se a
luz de Deus se apaga, se extingue também a dignidade divina do homem",
disse Bento 16. O papa, que celebrou a missa com o auxílio de cerca de 30 cardeais,
rezou pela paz na Palestina, Síria, Líbano e Iraque para que os cristãos
possam "conservar sua morada" nestes lugares e para que "cristãos e
muçulmanos possam construir juntos seus países na paz de Deus".
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