Um advogado está oferecendo R$ 20 mil para quem descobrir onde está
uma tela deCândido
Portinari que, segundo ele, foi furtada de seu apartamento no
Jardim Europa, zona sul de São Paulo, no dia 20 de abril. Carlos Ely
Eluf, de 65 anos, afirma que a obra Fetiche
(1959), avaliada em R$ 500 mil, foi trocada por uma réplica e
coloca um marchand (espécie de corretor de obras de arte) sob suspeita.
Sua filha, a também advogada Carolina Eluf, de 36, percebeu a fraude
quase duas semanas depois, na quinta-feira da semana passada.
Eluf, que já representou o ex-presidente Fernando Collor, o
ex-governador Orestes Quércia e o banqueiro Salvatore Cacciola, acredita
que o responsável pelo crime é Jenner Accioly Lins, de 76 anos, que
nega o crime. Segundo o advogado, Lins já tinha visitado o local e se
dizia um marchand autônomo. No dia 20, segundo a vítima, ele foi deixado
sozinho durante uma hora com o quadro de 27 por 18 centímetros,
enquanto a mulher do advogado estava em outro andar do dúplex onde eles
moram e colecionam obras de Carybé, Carlos Páez Vilaró e Di Cavalcanti.
Lins, no entanto, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que é
aposentado e só raramente faz a intermediação dessas transações. Ele
teria vendido outro quadro a Eluf em dezembro e conta que a última vez
em que esteve no apartamento foi há 30 dias. “Esse quadro tem de ser
achado rápido para não se deteriorar. Quem rouba quadro na casa dos
outros é gente de baixo nível.” Ele acrescentou que tem de ser
investigada “gente de dentro” do apartamento.
Desde que descobriu a troca, Eluf diz que não tem conseguido falar
com Lins. O anúncio da recompensa foi publicado nos Classificados do
jornal O Estado de S. Paulo com uma reprodução da tela: “Gratifica-se
quem der informações exatas sobre seu paradeiro”. Um inquérito foi
aberto no 15.º DP (Itaim-Bibi) e a tela falsa vai passar por perícia. A
Interpol foi comunicada, assim como galerias em Londres, Nova York e
Paris.
Troca - “Quem fez isso não imaginou que fosse
descoberto tão rápido. Se não fosse minha filha (que estudou Arte), eu
ia ficar dez anos olhando o quadro sem perceber”, explica o advogado
criminalista, que comprou a tela há 30 anos.
Ao ver o quadro na casa do pai na quinta-feira, Carolina percebeu
alguns aspectos diferentes: os pés da figura do quadro estavam maiores
do que ela lembrava, a cor do chão estava mais escura e havia na
paisagem um cano que na pintura original não existe. Além disso, haviam
muitos borrões a mais. “Eu sabia que era falsificado desde o início”,
disse a advogada.
Eluf ainda não estava convencido. Carolina então recuperou uma foto
de quando ela era criança ao lado da tela e mostrou as diferenças. Por
fim, procuraram a imagem na internet e confirmaram: o quadro era igual
ao da foto, mas não era o mesmo que estava na parede. Ao inspecionar a
tela com mais cuidado, descobriram um furo feito com estilete na parte
de trás, perto da moldura. Eles acreditam que o ladrão cortou o fundo do
quadro para trocar a tela.
No dia 20 de abril, segundo Eluf, Lins foi para o apartamento com uma
mala, dizendo que ia viajar para o Guarujá no mesmo dia. Isso, segundo o
advogado e a filha, é outro indício: a tela poderia ter sido enrolada e
colocada na bagagem. O acusado nega a história.
Obra - O quadro original, que não tem nenhum seguro,
foi feito por encomenda da atriz Cacilda Becker, para estampar o
convite da primeira apresentação de uma companhia brasileira de teatro
na Europa, no Teatro Tivoli, em Lisboa.
O quadro está registrado como patrimônio histórico e catalogado pelo
Projeto Portinari. “Essa obra é invendável”, explica Lins. “É difícil
comercializar esse quadro.” Em uma coisa, pelo menos, Lins e Eluf
concordam. agencia estado
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