Embora mais de 20 milhões de brasileiros não pertençam às religiões
cristãs, segundo o IBGE, a intolerância religiosa ainda ocorre no
Brasil. Divulgada nesta segunda-feira, 21, no Dia Nacional de Combate à
Intolerância Religiosa, a quantidade de denúncias recebidas pelo Disque
100 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
cresceu mais de sete vezes em 2012, em comparação com 2011. Foram 109
registros contra 15, um aumento de 626%. "Apesar de alguns avanços, há uma reação intolerante e racista, e eu já
percebo um certo recrudescimento de alguns direitos", declara Carlos
Alberto de Souza e Silva Júnior, ouvidor da Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (Seppir). O promotor de Combate ao Racismo e Intolerância Religiosa do Ministério
Público da Bahia (MP-BA), Cícero Ornelas, vê positivamente o aumento -
registrado também nas denúncias locais: "A consciência da população em
denunciar já demonstra que algo está mudando". Mãe Gilda - Há 13 anos, o coração de Mãe Gilda
(Gildásia dos Santos e Santos), 65, recusou-se a continuar batendo,
após uma perseguição religiosa. Uma reportagem do jornal evangélico
Folha Universal ("Macumbeiros charlatães ameaçam a vida e o bolso dos
clientes") motivou até uma agressão aplicada com uma Bíblia, por pessoas
que invadiram o terreiro dela - Ilê Axé Abassá de Ogum. O caso inspirou a criação, em 2007, deste dia de enfrentamento à
intolerância e, ainda hoje, rege a vida da filha e sucessora da
ialorixá, Jaciara Santos Ribeiro. Durante o processo movido contra a
Igreja Universal do Reino de Deus, responsável pelo jornal, ameaças de
morte, pernoites no carro e na casa dos fiéis fizeram parte da rotina de
Mãe Jaciara. "Até meus irmãos biológicos me chamavam de doida",
desabafou. A condenação foi obtida oito anos após a morte de Mãe
Gilda. Nesta segunda, o caso foi lembrado em três capitais brasileiras -
Recife, São Luís e Rio de Janeiro - além da baiana. Na noite desta
segunda, o documentário Mulheres de Axé: Vozes contra a Intolerância foi
pré-lançado na Casa de Oxumaré (Federação). O lançamento oficial do
vídeo será no dia 27 de março, encartado em um livro com as histórias de
vida de várias ialorixás. Além de religiosas como Mãe Stela, Mãe Carmem (herdeira de Mãe
Menininha) e Macota Valdina, o documentário traz depoimentos de outros
religiosos, como o pastor batista Djalma Torres e o espírita José
Medrado. Parafraseando Macota Valdina, Mãe Jaciara diz buscar o que
ainda parece utopia: "A gente não quer que nos tolerem. Quer respeito".
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